Guia Completo da Carretera Austral

A Carretera Austral é uma estrada mágica. Ela começou a ser construída em 1976, e os fiordes, as montanhas e as florestas pelo caminho dificultaram sua construção. Antigamente a região só era acessível por balsa e avião. Durante a ditadura militar de Augusto Pinochet um grande projeto foi feito na região e partiu de estudos que Pinochet havia feito em 1956, quando foi professor da Academia de Guerra. Mais de 10.000 soldados trabalharam nessa obra de engenharia que foi uma das mais caras e difíceis realizadas no Chile.

Nossa viagem para a Carretera Austral foi muito especial e a seguir compartilhamos com vocês todas as dicas dessa estrada icônica:

Clima: os meses mais chuvosos são junho, julho, agosto e setembro, é quando costuma nevar. Chove o ano todo na região onde se encontra a Carretera.
Postos de combustível: Em todos os postos existe um mapa indicando os outros postos de combustíveis ao longo da Carretera. A dica aqui é nunca deixar o tanque do veículo muito vazio, pois em algumas regiões os postos ficam a muitos km de distância um do outro, e em alguns casos pode haver falta de combustível.
Pedágios: Na Carretera Austral não há nenhum posto de cobrança de pedágio.
Hospedagem: No Chile em geral é difícil achar opções de pousadas, hotéis e hostels mais baratas, porém, na Carretera Austral é quase impossível economizar se quiser ficar em algum lugar mais confortável. Para quem gosta de acampar, todas as cidades e vilas possuem boas opções de camping.
Trajeto completo: A Carretera Austral, ou a Ruta 7, tem 1.240km de extensão, começa na cidade de Puerto Montt e termina em Villa O’Higgins. Para percorrer ela por inteiro, é preciso pegar 4 balsas ao longo do caminho, sendo 3 delas no começo da estrada, o que requer um pouco de planejamento.
Primeira balsa: Sai de Caleta la Arena a cada 30min na alta temporada. Na baixa temporada das 7h30 até às 20h e a cada 30min, fora desse período os horários são a cada 45min ou 1h. Não é possível reservar essa balsa, o embarque é por ordem de chegada. O pagamento é realizado na fila do embarque e custa 10.300 pesos. O percurso até Caleta Puelch é de 30min. Chegando em Caleta Puelch, é necessário percorrer 54km, em estrada totalmente pavimentada, até Hornopirén, local de onde sai a segunda balsa.
Site com mais informações sobre essa balsa:
Rutas y Horarios

Segunda e terceira balsa: A segunda balsa sai de Hornopirén às 10h na alta temporada e às 10h30 na baixa temporada. Os bilhetes da segunda e da terceira balsa devem ser comprados antecipadamente de forma conjunta pelo site da Somarco, que é a empresa que opera nesse trecho. O custo é de 39.400 pesos para carros e caminhonetes, nesse valor está incluído o condutor, e cada passageiro precisa pagar o valor adicional de 6.600 pesos. É possível reservar a balsa até dois meses antes da data de embarque, e a recomendação é se planejar com antecedência, porque as datas esgotam rapidamente.
Uma observação na questão do pagamento é que, no nosso caso, fizemos a reserva assim que abriu a opção da data que queríamos e, após isso, é necessário fazer o pagamento do valor em até 48 horas depois da reserva, porém, não conseguimos efetuar o pagamento. No site consta que o pagamento pode ser feito com cartão de crédito internacional ou através de um sistema de pagamento do Chile. Como o pagamento através dos nossos cartões que são internacionais não foi aceito, encaminhamos um e-mail para a Somarco, que prontamente respondeu e fizeram a reserva sem a necessidade de pagamento antecipado. Além disso, informaram que precisaríamos efetuar o pagamento no escritório deles em Puerto Montt. Assim, garantimos o nosso embarque.
No bilhete da balsa recomendam chegar na fila 1h antes do horário para o embarque. Nós chegamos na fila 20min antes do horário e não houve problema algum. De Hornopirén até Leptepú a viagem é de 3h30, depois se percorre um pequeno trecho feito em 15min até Fiordo Largo, de onde sai a terceira balsa que leva 45min até chegar em Caleta Gonzalo.
A balsa é muito confortável, possui uma grande área com mesas, poltronas, banheiros e até uma cafeteria. Além disso, a dica aqui é colocar uma roupa confortável e quentinha e aproveitar as vistas do lado de fora da balsa, que são impressionantes.
Site com mais informações sobre essa balsa:
Hornopiren Caleta Gonzalo – Itinerarios

Quem não quiser fazer esse trajeto pelas balsas pode passar o Paso Cardenal Antonio Samoré (aberto das 9h às 17h), indo em direção a Bariloche na Argentina, e entrar na Carretera Austral pelo Paso Rio Futaleufú (aberto das 8h às 18h), que fica entre Trevellín (Argentina) e Futaleufú (Chile).
Chegando em Caleta Gonzalo, a cidade mais perto com um pouco mais de infraestrutura é Chaitén, que fica a 56km, cerca de 1h do ponto de desembarque. O caminho é totalmente pavimentado.
Após 74km, em caminho totalmente pavimentado, está Villa Santa Lúcia, e quem quiser conhecer Futaleufú precisa dobrar à esquerda na Ruta 235. De Villa Santa Lucía até Futaleufú são 76km em estrada de rípio/cascalho.
De volta à Carretera Austral, de Villa Santa Lucía até Puyuhuapi, cidade com um pouco mais de infraestrutura, são 113km em caminho pavimentado.
Mais 54km em caminho quase todo pavimentado e se chega a entrada à direita que leva à Puerto Cisnes.
Dessa entrada, são mais 110km na Ruta 7 em estrada de rípio/cascalho que levam a outra entrada à direta, que leva à Puerto Aysén e Puerto Chacabuco, em estrada pavimentada, e é onde está a ponte Presidente Ibañez, declarada Monumento Nacional do Chile em 2002.
Aqui tem uma pegadinha, porque se continuarmos por esse caminho que leva a Puerto Aysén, também chegamos em Coihaique, a maior cidade da Carretera Austral, porém, apesar desse caminho ser todo pavimentado, ele faz parte da Ruta 240. Quem quiser continuar pela Ruta 7, na bifurcação precisa ir pelo caminho da esquerda, em direção a Villa Ortega, em estrada de rípio/cascalho.
De Coihaique até Villa Cerro Castillo são 95km em estrada pavimentada.
Depois de Villa Cerro Castillo o caminho é praticamente todo de rípio/cascalho até Villa O’Higgins, onde termina a Carretera Austral. De Villa Cerro Castillo a Caleta Yungay são 355km, nesse caminho as maiores cidades são Puerto Río Tranquilo, Puerto Bertrand e Cochrane.
Quem quiser conhecer Caleta Tortel, 20km antes de chegar em Caleta Yungay precisa dobrar à direita, o caminho é todo de rípio/cascalho.
De Caleta Yungay parte a quarta e última balsa, que leva até a cidade de Villa O’Higgings e ao final da Carretera Austral. Ela leva 45min para fazer a travessia e chegar a Río Bravo. A balsa é gratuita, porém os horários são reduzidos e é praticamente impossível pegar a balsa de ida e a balsa de volta no mesmo dia.
O percurso de Río Bravo até Villa O’Higgins é de 102km, e é o percurso mais perigoso de toda a Carretera. A estrada é muito sinuosa, com subidas e penhascos em todo o trajeto. Para chegar até o fim da Carretera Austral são mais 4km depois de Villa O’Higgings, em Puerto Bahamondes.

Atrações pela Carretera:

Chaitén

Parque Pumalín Douglas Tompkins

Douglas Tompkins nasceu nos Estados Unidos mas se apaixonou pelo Chile, e nos anos 90 se mudou para o país para se dedicar à conservação e ao ativismo ambiental. Ele comprou um terreno de 17.000 hectares na região e começou, em 1991, o Projeto Pumalín, que tem como objetivo a preservação da fauna e da flora local. Mais tarde o parque passou a ser administrado pelo governo chileno. São diversas trilhas que podem ser feitas no parque e de diversos níveis de dificuldade.

Nós fizemos a trilha do Vulcão Chaitén

A trilha para chegar na cratera do vulcão é considerada de nível alto e demora cerca de 4h para ser feita. Em maio de 2008 o vulcão Chaitén entrou em erupção pela primeira vez. Dias depois da erupção a cidade de Chaitén foi completamente inundada, quando uma onda de lama, gerada por causa do vulcão, fez com que as margens do rio local transbordassem. Depois disso poucas pessoas voltaram a morar na cidade. Atualmente o Vulcão Chaitén está “adormecido”, por isso é possível chegar à sua cratera pela trilha, que está bem sinalizada. No começo a subida é suave e depois se torna mais íngreme. Existem degraus pelo caminho e pontos de descanso feitos a partir de troncos que ajudam os aventureiros. No nosso caso tivemos que ter cuidado porque o percurso estava muito escorregadia devido às chuvas.
Aberto diariamente das 9h às 17h30.
Valor do ingresso por pessoa: gratuito.
Possui estacionamento: sim
Site:
Parque Nacional Pumalin Douglas Tompkins

Futaleufú

O rio que dá nome a cidade é considerado um dos três melhores do mundo para a prática de caiaque e rafting.

Mirador La Bandera

A trilha se encontra em uma propriedade privada. A subida leva cerca de 1h e pelo caminho existem algumas indicações pintadas em verde e amarelo em rochas e troncos. No final o caminho fica confuso e mal sinalizado, para quem ficar em dúvida, é só olhar o vídeo que fizemos para descobrir como chegar no mirante, que se encontra no final dessa página.
Valor do ingresso por pessoa: 1mil pesos.
Possui estacionamento: sim
Outras atividades e pontos turísticos de Futaleufú: rafting, Parque Nacional Futaleufú, Trilha Piedra del Aguila.

Puyuhuapi

Viaduto Piedra del Gato

Localizado a 60km de Puyuhuapi, o viaduto foi uma das partes mais complexas de se fazer ao longo da Carretera Austral e se chama assim porque quando esse trecho foi construído, os cerros tiveram que ser detonados para abrir o caminho, e os trabalhadores foram amarrados e se penduravam no alto para colocar os explosivos. Dá para ver algumas cordas que ainda estão penduradas. Infelizmente muitos trabalhadores morreram na obra.
Outras atividades e pontos turísticos de Puyuhuapi: termas, Salto el Cóndor e Parque Nacional Queulat.
Atividades e pontos turísticos de Coyhaique: Reserva Nacional Rio Simpson e Reserva Nacional Coyhaique.
Atividades e pontos turísticos de Villa Cerro Castillo: Reserva Natural Cerro Castillo. Perto da Villa foi onde avistamos 6 huemules na estrada. O huemúl é a espécie emblemática do Chile e é o cervo mais austral do mundo. A população de huemules hoje é de apenas 1500 indivíduos e a espécie está em perigo de extinção, ou seja, são raros de se avistar. Foi um verdadeiro presente do destino.

Puerto Río Tranquilo

Glaciar Exploradores

A Geleira Exploradores faz parte de uma grande massa de gelo que desce do monte San Valentín, que é a mais alta montanha da Patagônia. Ela tem 18km de comprimento aproximadamente e infelizmente está desaparecendo devido ao aquecimento global. O trekking custa 98mil pesos por pessoa e não dá para fazer o passeio por conta própria, somente com agência. Às 6h as agências começam a buscar o pessoal nas suas hospedagens em Puerto Río Tranquilo. O percurso de Puerto Río Tranquilo até o Parque Nacional Laguna San Rafael é de pouco mais de 1h30. A ida ao banheiro antes de começar a caminhada é quase que obrigatória. Também é nessa hora que são colocados todos os equipamentos como luvas, gorro e uma boa roupa para o frio. Depois o guia fala um pouco sobre o parque e como vai funcionar a caminhada e entrega os capacetes, cujo uso é obrigatório ao longo de toda a trilha, e também é entregue uma mochila com lanches e os grampos para o gelo. O tempo total do trekking é de 6h e essa é considerada uma atividade de dificuldade média a alta. O começo da caminhada é tranquilo, a trilha é bem demarcada e a subida é leve. Depois se inicia uma parte bem mais difícil, com muitas pedras soltas e que demanda mais atenção, pois é fácil escorregar, já que o gelo fica embaixo das pedras. Chegando no glaciar é a hora de colocar os grampos. Depois da explicação do guia de como andar com os grampos chega a hora de desbravar o glaciar.

Capillas de Mármol

As Capillas de Mármol são um complexo de túneis e cavernas de mármore, que surgem como ilhas no Lago General Carrera, o maior lago do Chile. As formações têm mais de 12mil anos e são feitas de carbonato de cálcio e as formas são resultado da ação do vento e das águas do General Carrera, que durante milhares de anos esculpiram o mármore. Foram declaradas Monumento Nacional em 1994. Para o passeio, as agências oferecem duas opções, um passeio de curta duração, que custa 20mil pesos por pessoa, com duração de 1h30 e que leva apenas à Capela e à Catedral de Mármore, e o passeio completo que custa 30mil pesos, com duração de 3h e que leva, além da Capela e da Catedral, para as Cavernas de Mármore. O melhor horário para fazer o tour é as 9h da manhã, porque venta menos. Às vezes o passeio não sai, porque depende das condições do tempo, principalmente se estiver ventando muito. Os barcos têm capacidade para até 12 pessoas e é preciso colocar o colete salva-vidas antes de embarcar. É bom fazer o passeio com um casaco corta vento e impermeável pois venta muito e entra água no barco. No passeio completo, a primeira parada é em um barco de mineradora que está naufragado. A segunda parada é em Puerto Sánchez, que é um dos lugares mais antigos do assentamento do Lago General Carrera e onde havia uma intensa atividade de mineração. A terceira parada é nas cavernas. Em alguns momentos o barco entra nos túneis e é possível tocar nas paredes de mármore. O ápice do passeio é a visita às estruturas mais famosas do lugar: a Capela e a Catedral de Mármore. Na volta o vento vai estar mais forte, por isso, é melhor estar preparado.

Puerto Bertrand

Confluência dos Rios Baker e Neff

O Rio Baker é o rio mais caudaloso do Chile e o Rio Neff tem uma extensão de 30km desde onde nasce, nos Campos de Gelo Norte, até a desembocadura no Rio Baker. Até chegar no Baker, o Neff é alimentado por geleiras e montanhas nevadas, dando uma cor leitosa às suas águas. Existe um local para estacionar o veículo na estrada e, após uma pequena caminhada se chega ao local onde dá para avistar a confluência.

Cochrane

Parque Nacional Patagônia

O parque possui 3 setores: Setor Chacabuco, Setor Lago Jeinimeni e Setor Tamango, que é o setor que está na cidade de Cochrane.
São várias opções de trilha no local, nós fizemos a trilha Los Carpinteros, que começa na administração do Setor Tamango, e corre paralelo ao rio Cochrane até chegar ao mirante com vista para o lago Cochrane. A trilha tem pouco mais de 9km ida e volta, feitos normalmente em 4h e possui nível moderado, com algumas subidas mais íngremes.
Aberto das 8h30 às 17h30.
Valor do ingresso por pessoa: 11mil pesos.
O ingresso deve ser comprado antecipadamente pelo site:
Pases Parques
Possui estacionamento: Sim.
Site:
Parque Nacional Patagonia

Caleta Tortel

Nessa curiosa vila carros não entram, já que o local conta com 7,5 km de plataformas e pontes de cipreste interligadas. Em 2001 Caleta Tortel foi declarada Monumento Nacional por sua arquitetura e pelo inusitado estilo de vida local. Com cerca de 400 habitantes, essa pequena cidade viveu praticamente isolada do mundo até o início desse milênio, quando um ramal da Carretera Austral chegou até ela. Caleta em espanhol quer dizer “enseada” e foi nessa enseada que foi fundado o povoado de Tortel no final da década de 50 para a exploração dos ciprestes, que são abundantes na região. Como não haviam recursos para grandes obras de engenharia para aplainar a encosta não foi possível construir ruas, assim, as passarelas de cipreste foram construídas para conectar as casas. Até 2003 só se podia chegar em Tortel de helicóptero ou barco porque a estrada que liga a Caleta até a Carretera Austral somente foi feita neste ano. A dica aqui é caminhar sem pressa e apreciar as vistas e as construções desse tranquilo e pitoresco lugar.

Villa O’Higgins

Parque Glaciar Mosco

O parque tem 4 trilhas que podem ser percorridas. Nós fizemos a trilha Miradores Urbanos, que leva apenas 30min para ser completada, de nível fácil e que leva a um mirante onde se avista toda a Villa O’Higgins. Também fizemos parte da trilha do Mirador La Bandera, que é mais difícil, com uma duração de 3h, e quase 2km de extensão só de subida. Infelizmente a trilha estava muito escorregadia porque choveu muito durante a noite em Villa O’Higgins e achamos perigoso continuar o percurso.
Aberto das 8h30 às 22h.
Valor do ingresso por pessoa: gratuito.
Possui estacionamento: Não.
Site:
Parque Glaciar el Mosco